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Às vezes o ataque é a melhor defesa




Mesmo representando a parte mais ofensiva de um portfólio, ou seja, uma das classes de ativos que tende a multiplicar de valor ao longo do tempo, as ações, stocks[1] e BDRs[2] também podem apresentar características interessantes de proteção contra quatro grandes riscos para um portfolio de investimentos: inflação, aumento das taxas de juros, queda da atividade econômica e desvalorização cambial

É importante ressaltar que aqui abordaremos os riscos de maneira “separada”, mas eles tendem a ocorrer de maneira simultânea, e podem inclusive reforçar uns aos outros. Por exemplo, um aumento da inflação brasileira deve levar a uma desvalorização cambial, que gerará um aumento do custo dos bens e insumos importados, que pode levar a um novo aumento da inflação, formando um ciclo “perverso” de aumento da inflação.

a) Inflação

Com relação à inflação, praticamente todas as ações tendem a oferecer uma proteção contra a desvalorização do dinheiro, já que as ações, grosso modo, representam ativos reais que estão sendo cotados em unidades monetárias – e como a unidade monetária está se desvalorizando – a tendência é que esses ativos se valorizem em unidades monetárias.

É claro que a dimensão desse “ajuste” automático dependerá da estrutura de capital da empresa, do setor em que ela está inserida e do seu poder de reajuste de preços.

Mas não é qualquer ação que te protegerá desses riscos, dado que essa proteção estará fortemente associada ao setor no qual a empresa está inserida.

Além disso, caso a inflação seja exclusivamente brasileira, as stocks e BDRs tendem a se valorizar ainda mais, dado que elas são cotadas em dólar[3] e, como comentamos acima, essa inflação provavelmente será acompanhada de uma desvalorização cambial.

b) Aumento das taxas de juros Em 2021 tivemos uma aula prática de quais setores da economia tendem a ganhar com as subidas de juros: basicamente bancos e exportadoras de commodities. Por se tratar de empresas mais sólidas e bem estabelecidas, com fluxos de caixa maiores e sem tanto potencial de crescimento, as empresas desses setores tendem a performar melhor nesse cenário. Aqui vale um comentário rápido sobre como normalmente o mercado precifica uma ação. É claro que essa é uma explicação bem simplista, dado que você pode acrescentar outros elementos num cálculo de valuation, mas a ideia é basicamente trazer os fluxos de caixa futuros a valor presente, que é basicamente dividir esses fluxos de caixa por uma taxa de juros. Com isso, as empresas que possuem maior expectativas de crescimento, ou seja, que os fluxos de caixa mais distante no tempo são os mais importantes para o seu valor de mercado, o que faz com que elas sejam mais impactadas por aumentos nas taxas de juros. c) Queda do PIB Aqui fica mais difícil encontrar empresas que sejam realmente uma proteção contra a queda da atividade. Veremos que normalmente a queda do PIB acaba beneficiando algumas empresas mais pela via da desvalorização cambial, dado que normalmente a redução da atividade econômica no Brasil implica um aumento do risco país, que tende a levar a desvalorizações cambiais. Outra empresa beneficiada pelo aumento do risco país associado a uma queda do PIB pode ser a B3 (B3SA3), que é a única bolsa de valores do Brasil. (Vale ressaltar que nenhuma das empresas citadas neste texto é uma recomendação de compra dos mesmos). Como esse movimento gera realocações de portfolios e aumento da volatilidade das ações brasileiras, mais negócios tendem a acontecer na bolsa, o que faz com que a B3 ganhe mais com suas taxas e emolumentos. Vale novamente ressaltar que, tanto para questão da taxa de juros quanto para a redução na atividade, os investimentos em stocks e BDRs podem servir como proteção também, caso esses movimentos aconteçam exclusivamente na economia brasileira. d) Desvalorização cambial Aqui talvez seja onde as ações brasileiras mais possam nos ajudar. Como o Brasil é uma superpotência no agronegócio, sendo o maior exportador líquido de commodities [4]agrícolas do mundo, possuímos boas empresas exportadoras que se beneficiam com a desvalorização cambial, como a Vale (VALE3) e Suzano (SUZB3) para citar alguns exemplos clássicos[5]. Além de receberem grande parte da sua receita em dólar, o produto dessas empresas fica ainda mais competitivo com a desvalorização cambial.

Então normalmente suas ações tendem a ganhar com a subida do dólar. Como citamos anteriormente, as stocks e BDRs também tendem a se valorizar nesse cenário

[1] Ações negociadas nas bolsas americanas

[2] Instrumento que permitem ao investidor brasileiro invista através da B3 em ações negociadas em outras bolsas. Basicamente, as instituições financeiras compram as ações lá fora e emitem “recibos” dessas ações (por isso o nome Brasilian Depository Receipt, ou BDR) que são negociados na B3. Esse instrumento também existe nas bolsas americanas.

[3] Os BDRs são cotados em Reais, mas como eles são referentes a ações cotadas em dólar, normalmente a desvalorização cambial é transferida para o preço do BDR. Porém, para BDRs menos líquidos, pode ser que a transferência não seja integral, por isso vale muito a pena conferir a liquidez de um BDR antes de investir no mesmo.

[4] Commodities são produtos de origem agropecuária ou de extração mineral, em estado bruto ou pequeno grau de industrialização, produzidos em larga escala e destinados ao comércio externo. Seus preços são determinados pela oferta e procura internacional da mercadoria. No Brasil, as principais commodities são o café, a soja, o trigo e o petróleo. Fonte: https://www.epsjv.fiocruz.br/commodities-definicao#:~:text=Commodities%20s%C3%A3o%20produtos%20de%20origem,e%20procura%20internacional%20da%20mercadoria.

[5] O leitor mais atento pode perceber que não citamos nenhuma exportadora de commodities agrícolas nos exemplos. Apesar de extremamente produtivo e lucrativo, o setor ainda não é muito bem representado na bolsa, dado que a maioria das empresas ainda possui capital privado. Esperamos que isso mude ao longo do tempo para que nós possamos participar desse setor tão importante para a economia do nosso país.

Por Alef Henrique

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